O tratamento de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde é oferecido em nível ambulatorial exclusivamente nas unidades básicas de saúde, priorizando a atenção integral ao paciente por meio do monitoramento terapêutico e de medidas para restabelecer o bem-estar físico, psíquico, emocional e social. Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1982, e adotada no Brasil como única estratégia terapêutica desde o início da década de 1990, a poliquimioterapia (PQT) – em apresentação adulto ou infantil – é o esquema de primeira linha para o tratamento farmacológico. Com a associação dos antimicrobianos rifampicina, dapsona e clofazimina, a PQT é muito efetiva na redução da carga bacilar possibilitando a cura em até 98% dos casos. O esquema terapêutico proposto com a poliquimioterapia tem duração de seis meses para as formas paucibacilares e um ano para as multibacilares.
Segundo a médica Isabela Maria Bernardes Goulart, o paciente em tratamento deixa de transmitir o agente causador da hanseníase, o que não significa necessariamente estar curado. “Cada caso deve ser observado individualmente, pois muitos pacientes concluem o esquema e seguem apresentando persistência de infecção ativa e manifestando inclusive novas queixas, principalmente referentes a lesões nos nervos ou problemas adjacentes. Ainda que exista um protocolo, é preciso lembrar que nem sempre funciona da mesma forma para todos. Portanto, além do olhar humanizado e criterioso, o médico precisa pensar em terapêuticas alternativas que atendam às queixas e necessidades individuais e levem o paciente, de fato, para a cura”, orienta.
Como o PQT é feito com associação de antibióticos, alguns pacientes podem apresentar efeitos adversos como reações cutâneas, anemia e náuseas, entre outros, inclusive de grande intensidade. “Essas são situações de urgência que necessitam de abordagem imediata”, informa a médica. Na identificação de efeitos adversos ao tratamento, a equipe deverá solicitar exames laboratoriais de acordo com o sintoma diagnosticado e suspender a PQT até a conclusão da análise clínica. Caso seja possível a identificação, deve ser suspensa apenas a droga causadora do problema, sendo substituída por outras drogas bactericidas, tais como ofloxacina, minociclina, claritromicina – também efetivas contra o bacilo –, indicadas por equipe especializada dos centros de referência em hanseníase.
Episódios agudos
De acordo com a médica, sobrepondo as manifestações clínicas da doença ainda podem ocorrer episódios agudos antes, durante e/ou após o término da poliquimioterapia. As denominadas ‘reações hansênicas’ se apresentam como lesões inflamadas na pele, nos nervos e/ou com sintomas e sinais sistêmicos, a exemplo de febre, artrite e mal-estar geral, entre outros. O tratamento das reações hansênicas é feito com medicamentos anti-inflamatórios e imunomoduladores, como corticoides e talidomida.