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Estudo confirma efeito da cepa LcS na cirrose alcoólica

Escrito por: Adenilde Bringel

Um microbioma intestinal patológico tem sido associado à disfunção imunológica em indivíduos com cirrose alcoólica. Anteriormente, um estudo piloto com o probiótico Lactobacillus casei Shirota (LcS) na cirrose havia demonstrado melhora significativa na função dos neutrófilos. Os neutrófilos, também conhecidos por leucócitos polimorfonucleares, fazem parte do sistema imunológico. Por possuírem capacidade de fagocitose, acabam sendo os principais responsáveis na defesa primária contra bactérias e fungos.

Para comprovar os achados, um novo estudo foi desenvolvido com objetivo de avaliar a eficácia do LcS na função dos neutrófilos e nas taxas significativas de infecção em pacientes com a doença. Ao realizar o estudo ‘A double-blind, randomized placebo-controlled trial of probiotic Lactobacillus casei Shirota in stable cirrhotic patients’, os cientistas também queriam determinar se efeitos semelhantes poderiam ser observados em pacientes com cirrose multicausal menos grave. Além disso, avaliaram se seis meses seriam mais eficazes do que apenas um mês de tratamento do experimento anterior.

Os pesquisadores randomizaram 92 pacientes cirróticos (escore de Child-Pugh ≤10) para receber LcS ou placebo, três vezes ao dia durante seis meses. Os desfechos primários envolveram a incidência de infecção significativa e a função dos neutrófilos. Enquanto os desfechos secundários foram perfil de citocinas, endotoxina, positividade de DNA bacteriano, permeabilidade intestinal e qualidade de vida.

De acordo com os autores, a disbiose intestinal está fisiopatologicamente ligada a todas as complicações da cirrose e implicada na disfunção imunológica que acomete esses indivíduos, o que resulta em maior suscetibilidade à infecção. “Também já foi demonstrado que a resposta inflamatória sistêmica resultante prevê resultados ruins na descompensação aguda e na insuficiência hepática aguda-crônica (ACLF) desses pacientes”, acentuam.

Resultados

Durante o período do estudo houve baixa frequência de episódios infecciosos e nenhum episódio de infecção que justificasse hospitalização em qualquer dos grupos. “Isto, inevitavelmente, teve impacto em qualquer sinal potencial de eficácia do LcS”, relatam os autores. Além disso, não foram observados efeitos adversos graves relacionados ao tratamento e não foram observadas alterações clinicamente significativas nos parâmetros laboratoriais (incluindo amilase), demonstrando o perfil de segurança favorável do LcS em pacientes cirróticos.

As taxas de infecção, descompensação ou função dos neutrófilos não diferiram entre os grupos placebo e probiótico. No entanto, o LcS reduziu significativamente a proteína quimiotática-1 de monócitos plasmáticos. Posteriormente, na análise de subgrupo, o

LcS também reduziu interleucina-1β plasmática (cirrose alcoólica), interleucina-17a e proteína inflamatória de macrófagos-1β (cirrose não alcoólica), em comparação com placebo.

“Não foram observadas diferenças significativas na permeabilidade intestinal, translocação bacteriana ou perfil metabolômico”, acentuam os autores. Embora não tenham sido observadas infecções significativas em nenhum dos grupos, o LcS melhorou o perfil de citocinas em direção a um fenótipo anti-inflamatório, um efeito que parece ser independente da translocação bacteriana. Assim sendo, os pesquisadores afirmam que a suplementação de LcS em pacientes com cirrose precoce é segura. O estudo foi publicado on-line na Nutrients, em 2020 – doi: 10.3390/nu12061651.

Evidências anteriores

No estudo anterior, piloto e aberto, o mesmo grupo já havia avaliado os efeitos de Lactobacillus casei Shirota em 12 doze pacientes com cirrose alcoólica. Naquele experimento, a função basal dos neutrófilos mostrou uma capacidade fagocítica significativamente menor nos pacientes em comparação com os controles, que se normalizou após quatro semanas de terapia com LcS.

“Isso foi associado a uma redução significativa nos receptores do fator de necrose tumoral 1 e 2 e nas concentrações de interleucina-10 (IL-10)”, acentuam os autores. Portanto, o resultado forneceu uma prova de conceito de que o defeito fagocítico funcional e o perfil alterado de citocinas observado na cirrose poderiam ser restaurados com LcS, mostrando eficácia do LcS na função dos neutrófilos.

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