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Efeito probiótico e a esclerose múltipla

Escrito por: Adenilde Bringel

Doença neurológica autoimune crônica e progressiva, a esclerose múltipla é causada em razão de as células de defesa do corpo atacarem o próprio sistema nervoso central, o cérebro e a medula espinhal. Com isso, o tecido protetor (mielina) que envolve as fibras nervosas é destruído, impedindo ou alterando a transmissão das mensagens do cérebro para as diversas partes do corpo.

A esclerose múltipla é a doença neurológica que mais afeta jovens adultos no mundo. A idade média ao diagnóstico é de 30 anos, na maioria mulheres. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), cerca de 40 mil brasileiros são acometidos pela enfermidade.

O microbioma intestinal tem sido implicado em vários distúrbios autoimunes. Entre eles estão doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e encefalomielite autoimune experimental. Além disso, alterações no microbioma intestinal de pacientes com esclerose múltipla têm sido relatadas por vários pesquisadores.

Nesse sentido, cientistas da Brigham and Women’s Hospital da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, resolveram desenvolver um estudo clínico. Os pesquisadores avaliaram se a ingestão de cepas probióticas poderia ter um efeito no microbioma intestinal e na função imunológica periférica de controles saudáveis e pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente.

Assim, nove pacientes com esclerose múltipla e 13 controles receberam, por via oral, um mix probiótico contendo Lactobacillus, Bifidobacterium e Streptococcus, duas vezes ao dia durante dois meses. No início do estudo, após a conclusão do tratamento de dois meses, e três meses após a descontinuação da terapia foram coletadas amostras de sangue e fezes dos participantes.

Resultados

“A análise metagenômica preditiva revelou uma diminuição na abundância de várias vias KEGG (Enciclopédia de Genes e Genomas de Kyoto) associadas à função alterada da microbiota intestinal em pacientes com esclerose múltipla, como o metabolismo do metano após suplementação de probióticos”, descrevem os autores. No nível imunológico, a administração de probióticos induziu uma resposta imune periférica anti-inflamatória caracterizada pela diminuição da frequência de monócitos inflamatórios.

Ao mesmo tempo, a ingestão de probióticos também foi associada à diminuição da expressão do alelo de risco de esclerose múltipla HLA-DQA1 nos indivíduos controles. Os autores informam que a administração de probióticos aumentou a abundância de vários táxons conhecidos por estarem esgotados na esclerose múltipla, como Lactobacillus. “Descobrimos também que o uso de probióticos diminuiu a abundância de táxons previamente associados à disbiose na doença, incluindo Akkermansia e Blautia”, acentuam.

Todos os participantes do estudo aderiram em mais de 90% à suplementação de probióticos e a adesão foi monitorada. Nenhuma reação adversa grave foi relatada pelos pacientes ou identificada pelos médicos, assim como nenhum dos pacientes apresentou recaída durante ou após a suplementação de probióticos. “Nossos resultados sugerem que os probióticos podem ter um efeito sinérgico com as terapias atuais para esclerose múltipla”, afirmam os pesquisadores no artigo ‘A probiotic modulates the microbiome and immunity in multiple sclerosis’, que foi publicado na Annals of Neurology em 2018.

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