Hipertensão e diabetes aumentam óbitos

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Hipertensão e diabetes tiveram aumento de óbitos

Escrito por: Fernanda Ortiz

A pandemia da Covid-19 representou um desafio significativo de saúde pública em todo o mundo. Entretanto, de acordo com um estudo recém-publicado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mesmo com a exclusão de óbitos pelo coronavírus, as tendências de mortalidade no Brasil tiveram um aumento entre 2020 e 2022. A análise das possíveis causas apontou que a média de mortes por diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica ficou acima das taxas globais.

Para o comparativo de bases, os pesquisadores analisaram dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), disponíveis publicamente no DATASUS abrangendo o período entre 2015 e 2022. Além disso, foram utilizadas informações populacionais obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio do Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra). Os dados, de acordo com os autores, incluíram todas as causas de morte listadas nas declarações de óbito, categorizadas pelos códigos da 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).

As razões de mortalidade foram calculadas comparando as taxas de óbitos em 2020, 2021 e 2022 com as médias de 2015 a 2019. A pesquisa aponta que as taxas aumentadas de mortalidade para diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica foi evidente nas faixas etárias mais jovens até 19 e 20-29 anos, respectivamente. Em relação às doenças como um todo, incluindo as cardiovasculares, a pesquisa mostrou que as taxas retornaram à linha de base quando os óbitos por Covid são retirados em 2020 e 2021. A partir dos 30 anos foi observado aumento significativo em 2020 e 2021. Já os adultos de meia-idade foram particularmente afetados em 2021, com um aumento de 48% na mortalidade geral no grupo de 40-49 anos.

Comorbidades

De acordo com os autores, as taxas de mortalidade para brasileiros com hipertensão e diabetes como comorbidades também aumentaram significativamente em 2020 e 2021. No entanto, não retornaram aos valores basais após a remoção das declarações de óbito que mencionavam a Covid-19. Dois mecanismos diferentes podem estar desempenhando um papel nesse padrão. “O primeiro é a possibilidade de subnotificação de Covid-19 entre indivíduos falecidos com essas condições no Brasil. O segundo refere-se à prevalência dessas condições aumentada durante a pandemia, contribuindo para as altas taxas de mortalidade no período”, avaliam.

A relação das duas doenças crônicas com mudanças no estilo de vida durante e depois da pandemia (por exemplo, diminuição da atividade física, menor controle glicêmico e baixa adesão ao tratamento) pode ter tido impacto nas razões de mortalidade na população sem Covid-19. Além disso, alguns estudos apontaram para hipertensão e diabetes recém-detectados após diagnóstico agudo de Covid-19, especialmente em casos graves. Uma possibilidade para ambos os casos seria o fato de a maioria dos indivíduos com essas condições serem mais velhos e, portanto, estarem impulsionando essa tendência, já que suas taxas de mortalidade são mais altas.

“A pandemia teve um impacto duradouro nas taxas de mortalidade por essas enfermidades e os números analisados enfatizam a necessidade de atenção contínua à gestão e prevenção dessas doenças como parte das estratégias de saúde pública”, concluem os autores. O artigo ‘Persistent high mortality rates for Diabetes Mellitus and Hypertension after excluding deaths associated with covid-19 in Brazil, 2020-2022’ foi publicado em maio de 2024 na revista PLOS Global Public Health.

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