As doenças periodontais têm alta prevalência na população e representam a sexta condição crônica de maior ocorrência no planeta, sendo classificadas como um problema de saúde pública. Inflamação dos tecidos que dão suporte aos dentes, o principal fator de risco da periodontite é o biofilme (placas bacterianas) que se acumula abaixo da gengiva – embora existam outros fatores relacionados como diabetes, fumo, estresse e genética. O biofilme favorece a destruição dos tecidos de sustentação e, se não for devidamente controlado, pode levar à perda dos dentes.
Embora o tratamento convencional seja a raspagem e o alisamento radicular (RAR) dos dentes para a remoção do biofilme e do tártaro, em alguns casos também é necessário o uso de antibióticos. Mais recentemente, cientistas têm conseguido comprovar que algumas cepas probióticas podem ser empregadas como adjuvantes no tratamento das doenças periodontais.
Para testar o efeito de Bifidobacterium animalis subsp. lactis (B. lactis) em pacientes com periodontite, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP) desenvolveram um ensaio clínico randomizado controlado por placebo. Os 41 pacientes com periodontite crônica selecionados na Clínica de Periodontia da FORP-USP foram monitorados clínica, imunológica e microbiologicamente no início do estudo (antes da RAR), 30 e 90 dias após o tratamento convencional.
Todos foram designados de forma aleatória para um grupo teste (RAR + probiótico) ou controle (RAR + placebo). As pastilhas probióticas contendo 10mg de B. lactis HN019 ou placebo foram usadas duas vezes ao dia, durante 30 dias. Os pacientes receberam 14 pastilhas (placebo ou probiótico) por semana – que deveriam ser colocadas na região sublingual, dissolvidas e deglutidas lentamente.
Ao final de cada semana, os participantes foram atendidos na Clínica de Periodontia da FORP-USP, trazendo as embalagens vazias para receber novas pastilhas para a semana seguinte. Os pacientes não foram submetidos a qualquer procedimento clínico durante essas visitas, mas foram monitorados quanto à adesão da terapia proposta. “As avaliações pré e pós-intervenção foram realizadas por um único examinador treinado e calibrado, mas que não sabia quais pacientes tinham recebido a terapia probiótica ou o placebo”, descrevem os autores.
Os resultados mostraram que a pastilha probiótica promoveu uma mudança nos microrganismos presentes na região bucal, aumentou a resistência das mucosas orais dos pacientes aos ataques microbiológicos e promoveu maior redução de bolsas periodontais (redução da inflamação periodontal) comprovando que o B. lactis HN019 pode ser usado como adjuvante do tratamento convencional da periodontite crônica porque promove benefícios clínicos, microbiológicos e imunológicos adicionais. O estudo ‘Effects of Bifidobacterium probiotic on the treatment of chronic periodontitis: A randomized clinical trial’ foi publicado Journal of Clinical Periodontology, em 2018.
