Espécie nativa encontrada na Amazônia

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Resíduo de inajá tem atividades benéficas

Escrito por: Fernanda Ortiz

As atividades agroindustriais geram grandes quantidades de resíduos sólidos, que geralmente são descartados ou utilizados na alimentação animal. Entretanto, pesquisadores defendem que alguns destes subprodutos poderiam servir como fontes naturais de compostos bioativos com grande potencial para exploração industrial. Recentemente, um estudo conduzido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP) identificou que os resíduos de inajá são ricos em compostos bioativos com atividade antioxidante e anti-inflamatória. Esses resíduos são resultantes da prensagem da polpa dessa fruta, espécie nativa encontrada na Amazônia brasileira, para a extração de óleo.

Por serem fontes ricas em compostos fenólicos, os subprodutos do processamento de óleo – por exemplo o inajá – poderiam ter melhores aplicações como ingrediente nutracêutico e alimentares funcionais, bem como nas indústrias farmacêutica e cosmética.  De acordo com os autores, para realizar a extração dos óleos, frutas como o inajá são maceradas em água quente, as sementes e cascas são removidas e a polpa é extraída, seca e prensada. O que sobra na prensa, chamado de torta ou bolo, é descartado. “O estudo fez uma caracterização inicial desse material e desenvolveu métodos de extração que possibilitaram a produção de um extrato rico em substâncias antioxidantes”, destacam.

Os experimentos para otimização da extração de compostos fenólicos dessa espécie nativa encontrada na Amazônia foram realizados sob diferentes condições de temperatura e concentração do solvente extrator. Os autores observam que a variabilidade nas respostas pode ser explicada por diversos fatores que podem influenciar a extração de compostos fenólicos, incluindo as estruturas moleculares dos antioxidantes, a complexidade da matriz vegetal, a temperatura de extração e a composição do solvente de extração. “O delineamento composto central rotativo e a análise estatística demonstraram que a temperatura de 70°C e concentração de etanol de 50% (v/v) melhoraram a extração de compostos fenólicos com propriedades antioxidantes”, comentam.

Além disso, o estudo demonstrou que o extrato de torta de inajá diminuiu a ativação de NF-KB (fator nuclear kappa B), um complexo proteico envolvido na resposta celular a estímulos como o estresse e a ação de radicais livres. Ademais, diminuiu a liberação de citocinas como a TNF-α (com ações pró-inflamatórias) em macrófagos murinos estimulados. A potencial bioatividade do material testado pode ser atribuída à presença de catequinas e proantocianidinas, flavonoides que possuem atividade antioxidante, poder redutor e propriedades anti-inflamatórias.

De acordo com os autores, múltiplas atividades biológicas têm sido associadas aos flavonoides, incluindo propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias; menor risco de desenvolvimento de câncer e menor prevalência de diabetes tipo II e doenças cardiovasculares. “Este é o primeiro relato científico da composição fenólica da torta de inajá. Coletivamente, mostramos que o extrato otimizado da fruta é uma nova fonte natural de compostos bioativos que pode ser utilizado em diversas aplicações de valor agregado”, concluem os autores. O estudo é fruto da tese de doutorado de Anna Paula de Souza Silva, cientista de alimentos da ESALQ-USP, com orientação do professor doutor Severino Matias de Alencar e demais colaboradores. O artigo ‘Inajá oil processing by-product: A novel source of bioactive catechins and procyanidins from a Brazilian native fruit’ foi publicado em 2021 na Food Research International.

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