Conexão entre intestino e autismo

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O intestino pode ter relação com o autismo?

Escrito por: Elessandra Asevedo

Nos últimos anos, a busca por entender a conexão entre o intestino e o autismo tem crescido no meio científico. Isso ocorre, acima de tudo, porque perturbações gastrointestinais têm sido observadas em um número grande de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por exemplo, essas crianças apresentam mais diarreia, obstipação e cólon irritável quando comparadas com as que não apresentam autismo.

Além disso, a gravidade do transtorno, muitas vezes, está correlacionada com a severidade dos distúrbios intestinais e vice-versa. Portanto, podem ocorrer melhorias no comportamento de pacientes com autismo sempre que as perturbações gastrointestinais são tratadas. Dessa forma, essa conexão tem despertado o interesse dos pesquisadores, especialmente em relação ao papel da microbiota intestinal.

De acordo com a médica nutróloga e endocrinologista Lorena Balestra, pacientes autistas frequentemente apresentam permeabilidade intestinal, inflamação e perturbações intestinais e neurológicas associadas a uma resposta exacerbada ao estresse. “A teoria de que o desequilíbrio da microbiota intestinal seria a causa do autismo ganhou destaque na mídia. Entretanto, cientistas australianos alertam para não confundir causa e consequência”, alerta.

O estudo ‘Autism-related dietary preferences mediate autism-gut microbiome associations, publicado na revista Cell, revela que são os componentes alimentares das pessoas autistas que interferem na microbiota, e não o contrário. Em uma extensa pesquisa envolvendo 247 crianças australianas, incluindo 99 com diagnóstico e 148 sem autismo, os cientistas analisaram a composição bacteriana presente nas amostras.

Os pesquisadores levaram em consideração fatores como consistência das fezes, alimentação, sexo e idade. Contudo, o diagnóstico de autismo não apresentou associação significativa com a composição da microbiota intestinal, ou seja, a conexão entre intestino e autismo. “Acima de tudo, o estudo revelou que a composição da microbiota das crianças autistas está fortemente ligada à alimentação, consistência das fezes e idade”, revelam.

Preferências alimentares 

Primeiramente, é comum que crianças autistas tenham preferência por determinados alimentos, consumindo-os repetidamente. Além disso, apresentam desafios em relação a gostos, cheiros e texturas. “Isso resulta em uma alimentação menos diversificada e, consequentemente, na redução na diversidade da microbiota intestinal, o que pode levar a fezes mais moles”, acentua a médica Lorena Balestra.

Entretanto, algumas atitudes podem ajudar a melhorar a ingestão de nutrientes por autistas com seletividade alimentar. A primeira é sempre consultar um profissional de saúde especializado em TEA e nutrição para orientações personalizadas, bem como introduzir gradualmente alimentos novos na dieta, respeitando as preferências individuais. Além disso, é importante ofertar opções nutricionalmente equilibradas, variadas em cores, sabores e texturas.

A médica Lorena Balestra recomenda aos pais considerarem a suplementação adequada de nutrientes, se necessário, desde que tenha orientação médica. “Explorar estratégias sensoriais para tornar a alimentação mais atraente e incentivar a participação da criança no processo de preparação das refeições também colaboram”, orienta. Além disso, é interessante participar de grupos de apoio para pais ou comunidades online para a troca de experiências e dicas úteis

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