Metabolismo ativo dos ácidos graxos

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Metabolismo dos ácidos graxos na lesão pulmonar aguda

Escrito por: Fernanda Ortiz

A lesão pulmonar aguda (LPA) e sua forma mais grave, a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), são doenças inflamatórias potencialmente fatais. Essas enfermidades são resultantes de uma série de fatores intra e extrapulmonares, incluindo sepse, cirurgia, trauma, isquemia-reperfusão, pneumonia, toxicidade medicamentosa e ventilação mecânica. Evidências na literatura cientifica sugerem que a inflamação excessiva e descontrolada no pulmão desempenha papel vital na mediação, amplificação e prolongamento da doença. Entretanto, de acordo com um recente artigo de revisão, as vias relacionadas ao metabolismo ativo dos ácidos graxos (AGs) parecem desempenhar um papel crucial na manutenção da homeostase pulmonar.

Os pulmões dos mamíferos são órgãos metabolicamente ativos, em que a ingestão de gordura na dieta pode modular a composição dos ácidos graxos na membrana pulmonar. Assim, induz alterações na sua fluidez e influencia funções celulares, como a ligação do receptor hormonal e a atividade de enzimas associadas. De acordo com os autores, com o surgimento do imunometabolismo como um campo de estudo e a crescente carga de doenças relacionadas à obesidade, pesquisas recentes estão mudando progressivamente seu foco para explorar a relação entre o metabolismo ativo dos ácidos graxos e a lesão pulmonar aguda.

Entre os achados da revisão, os autores constataram que, durante a lesão pulmonar aguda, a inflamação e o estresse oxidativo levam a uma série de reprogramações metabólicas e, consequentemente, à depleção de energia. Com isso, resultam na oxidação prejudicada dos ácidos graxos e no aumento da expressão de proteínas envolvidas na sua captação e transporte, assim como síntese aprimorada de ácidos graxos e acúmulo de lipoproteínas. Além disso, os mecanismos da obesidade (a partir da perspectiva do metabolismo de ácidos graxos) representam um fator de risco significativo para LPA/SDRA. “Tais alterações metabólicas indicam, portanto, que reverter a expressão de enzimas-chave envolvidas no metabolismo dos ácidos graxos pode efetivamente mitigar a gravidade da lesão pulmonar aguda”, avaliam.

Pesquisas futuras

De acordo com os autores, mirar no metabolismo ativo dos ácidos graxos é uma grande promessa para pesquisas futuras sobre proteção pulmonar. “Se a via metabólica de ácidos graxos do paciente puder ser regulada precocemente por meio de intervenções dietéticas e farmacológicas, acreditamos que isso possibilitaria um estado de prontidão para o estresse ao ser atingido pela lesão pulmonar aguda, ao mesmo tempo em que a obesidade mantenha o corpo em um estado de inflamação crônica de baixo grau”, relatam. Essa pré-regulação poderia potencialmente amenizar a gravidade da lesão pulmonar e, consequentemente, reduzir o risco de mortalidade associado à condição.

Os autores acentuam que, ainda que a revisão sistemática corrobore que as vias metabólicas dos ácidos graxos desempenham um papel crucial na manutenção da homeostase pulmonar, os mecanismos regulatórios específicos são muito complexos e demandam investigações mais aprofundadas em estudos futuros. O artigo ‘The role of fatty acid metabolism in acute lung injury: a special focus on immunometabolism’ foi publicado em março de 2024 no periódico Springer Link.

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